Been there, Done That

22 Jul a 02 Ago

Vernissage 22 jul com Lume

Com frequência encontram graffiters que fazem a clássica afirmação “Eu não sou um artista, sou um vândalo”. E por vezes essa afirmação pode ser verdade, pois de fato o grafite é menos sobre o resultado final da peça e mais sobre o momento da pintura e o ato de transgressão. 

É uma atividade que exige, investimento, preparação, técnica, recursos e coragem, isto sem a garantia de longevidade do trabalho executado. A efemeridade desta prática (arte), fruto da sua ilegalidade, reforça o peso do ato, do momento em que se está.

Etimologicamente cultura deriva do verbo latino colo, que significa “vivo, ocupo a terra” e também “trabalho, cultivo o campo”. Cada peça de grafite é (sobretudo) o resíduo de uma ação, a ação de ocupar e cultivar a cidade. A memória dessa ação é fisicamente representada numa foto. Com isto,, a própria documentação da performance pode tornar-se a obra de arte. Enquanto a peça é a representação visual do ato de transgressão, a foto captura sua poética, captura não apenas o subproduto, mas o performativo gesto de apropriação que o escritor faz em relação ao espaço público, e preserva as informações sobre o risco que aquela pessoa corria para fazer aquele trabalho, o que de muitas maneiras pode refletir na qualidade estética da própria peça. Este ato performativo contradiz a definição do “homem moderno” segundo Nietzsche: um homem que perdeu sua espontaneidade e se acostumou a responder a estímulos em vez de tomar iniciativas. Agora, graffiti, como temos visto, é exatamente o oposto.

LxVandalsquad é um projeto contínuo em crescimento, iniciado em 2015, já com diversas exposições, testemunhando diferentes fases e objetivos deste trabalho fotográfico. Com o foco nas ferrovias apropriação pelo graffiti, as fotografias de Carlos Cirilo mostram o esforço de recuperar a cidade. Isto é, para realmente entender o graffiti, é preciso entender o que ele significa no movimento na cidade. Com isso em mente, pode-se falar do grafite como sendo o alicerce na exploração e reinterpretação do ambiente circundante, e com o comboio como o principal (e às vezes único) meio de transporte entre a periferia e centro, o grafite que nele aparece pode ser pensado como um desvio ou contestação à ordem social. Nascido e crescido na linha de Sintra, Carlos Cirilo questiona as geografias morais associadas não só à prática do graffiti, mas também ao urbanismo e à sua sociedade moderna. De que mais se trata a arte se não para  levantar questões?

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