Ponto Morto

A exposição Ponto Morto recolhe óleo sobre tela, grafite sobre papel, acrílico sobre tela, caneta bicolor e marcadores sobre papel, aguarela sobre papel e fotografia.

Todas estas técnicas uniram-se para gritar em uníssono: “Ponto Morto” (Neutro).”

Sem festas, sem festivais, sem almoços e jantares, sem visitantes, sem visitas. A minha boca estava tapada, nem sequer sei como falar com alguém que não me diz nada, de facto, nem sei quem me diz alguma coisa porque eu não digo uma palavra. Mas ouço, porque estamos a falar, estamos a conversar, estamos a encontrar-nos. O gerúndio só aparece virtualmente porque eu não sinto movimento. Eu disse “olá” à janela, fui correr e senti-me como um criminoso. Apeteceu-me dar abraços àqueles que tentavam tomar conta dos outros, quando todos tinham medo deles, mas… abraços? Que nojo! Não me toquem! Não me tussa em cima. Não vos conheço de todo: afastem-se! Estou a caminhar no meio da estrada: Não me quero cruzar com ninguém. Podíamos ser amigos, mas não sei – onde estiveste? Tenho estado aqui fechado em casa, a lavar roupa e a desinfectar supermercados. Eu estive, nós estivemos… Temos estado a lutar, sem nos podermos tocar um ao outro. Então eu estava a ser empurrado ou a deslizar para longe ou a andar para trás.”

E o imaginário?
Estamos aqui reunidos para unir o que sentimos e o que decidimos transformar em coisas físicas. A neutralidade é sempre o ponto morto?


* Vernissage – 04 de Março – 18h *

A vernissage será acompanhada pela dupla Le Cabine, guiando-nos durante a noite com o seu conjunto de dj groovy.

• • • CRONOGRAMA • • •

04.03. … 18 – 22 h …. Vernissage feat. Le Cabine (DJ Set)
05.03. … 17 – 20 h …. Exposição por marcação*
06.03. … 18 – 22 h …. Exposição feat. The Tourorists (concerto)
07.03. … 17 – 20 h …. Exposição
08.03. … 18 – 22 h …. Finnisage feat. Invitational Jam Session hosted by Madama

*Agende a sua visita através do número: 00351 932249633


• • • ARTISTAS • • •

Antonio Cassiano Santos
Retirar um objeto de um estado estacionário requer mais energia do que o manter em movimento. Sairmos de estados estacionários é complicado, o corpo e a mente criam hábitos de baixos consumos energéticos, difíceis de mudar. Acho que para definir o conceito de ponto morto devemos equipara-lo a um conceito antagónico. Estar parado depreende que houve ou vai haver, um momento diferente na linha de tempo em que não estamos parados, se calhar por isso penso muito na importância de fazer um equilíbrio entre o bom e o mau que se retira de uma vida mais circunscrita. Apresento na exposição 4 auto-retratos, uns mais em ponto morto, outros menos, mas deixo quais são o quê, a quem os vê.


Josefa Searle
Este trabalho surge da necessidade de se mover, de não parar. Foi feito numa altura em que todo o planeta congelou, as indústrias pararam, as escolas ficaram vazias e os edifícios de escritórios tiveram as suas luzes apagadas durante meses. No entanto, há algo em nós que não pode parar. Que sentimento é esse? Qual é essa sensação? Que coisas nos diferenciam das meras máquinas que se tornam frias ao toque de um interruptor? Este trabalho tenta responder a essas questões, e o melhor de tudo é que não estava sozinho. Havia tantas pessoas como eu estava à procura das respostas, na verdade, a maioria delas. A rebelião do movimento, numa altura em que todos se encontravam num ponto morto.

Mara Santos
Esta coleção nasce de uma vontade adiada. Há 17 anos, na minha adolescência, inspirada por uma cena romântica de um filme, visualizei a sensação de liberdade que teria ao agarrar num pincel e várias cores e com elas expressar os meus sentimentos, emoções, sonhos ou simples divagações. Em 2021, já neste contexto de pandemia, uma amiga perguntou: É amanhã que vais comprar a tela? E assim foi, e amanhã tornou-se hoje e o hoje tornou-se ontem e em movimento de repetição sem nunca repetir o resultado tenho dado mãos, cor à imaginação em momentos de diversão, partilha e muitos risos – que bom que é poder voltar a brincar sem julgar apenas apreciar!


Semog
Dizem que a estabilidade se faz no equilíbrio entre as forças contrárias e nos ciclos de movimento. De repente, o mundo ficou em ponto morto. A pandemia trouxe uma alteração abrupta nos ciclos habituais. No entanto, nunca tivemos tanto tempo para nós próprios, e o movimento interno foi crescente, até extenuante. Tento sempre pintar o que estou a viver; espelhar nos meus quadros algo que esteja a ver com os meus olhos. Numa altura em que a solidão e o individualismo são mais permanentes, nunca a minha vontade de pintar a vida exterior foi tão grande. A natureza está sempre em movimento. Seja porque seres humanos ou animais se movimentam nela, seja pela sua própria condição natural. Nunca podes ver a mesma paisagem, apesar de ela ser única. Está sempre em movimento, e talvez por isso nos traga estabilidade.

Vasco Teles da Gama
Os trabalhos que eu faço não têm qualquer tipo de ambição ou preciosismo. São o seguimento direto dos desenhos que sempre fiz espontâneamente durante aulas ou distrações, momentos em que me via com uma esferográfica e qualquer tipo de papel à frente, quer fosse quadriculado, papel de cozinha ou uma cobertura de uma mesa de café. Esta condição básica para o desenho (uma caneta e uma superfície) acaba por ser a expressão mais intuitiva de arte que qualquer um de nós tem ao dispor desde a revolução industrial. É possivelmente a forma mais básica de expressão plástica atual.


João Maria Alves
“A paixão causada pelo enorme e pelo sublime na natureza, quando essas causas operam com mais força, é o verdadeiro espanto; aquele estado da alma em que todos os nossos movimentos estão em suspenso, contendo até um certo grau de horror .” Assim proclamou Edmund Burke n’”O Inquérito Filosófico sobre o Sublime e o Belo” em 1757, dando aos artistas românticos como Turner ou John Martin uma análise mais formal do pensamento por detrás da corrente que ganhava proeminência na segunda metade do século XVIII. O Sublime leva-nos ao Ponto Morto, à serena contemplaçao da nossa diminuta dimensao, da nossa fragilidade. Está num naufrágio inevitável, num incêndio indomável e no carro que vem demasiado rápido na nossa direçao.


Le Cabine 

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